Essa obra é um rico 'guia' de como se perceber as roupas no século XIX durante o período colonial. Maria Beatriz Nizza da Silva constrói uma imagem desse Brasil e vai nos mostrando como as roupas iam 'falando' dentro desse cenário histórico-social.
Alguns ricos elementos que a autora nos dá:
Entre os brancos da colônia era comum o 'vestuário semanário' e o 'domingueiro'. O vestuário dominical para mulheres apesar de ser feito de uma camisa de musselina muito fina e ornamentada, mas era completamente coberta por um xale preto. Com a vinda da Corte Portuguesa para o Rio de Janeiro o luxo vem da Europa em conjunto para vestir a elite do país. Uma curiosidade que a autora nos dá: os sapatos são usados somente por brancos, mas somente fora de casa. As jóias são símbolo de fortuna e de prestígio e eram feitas, assim como qualquer outro acessório, no Brasil com muito esmero de maneira que, segundo um viajante (Ferdinand Denis) encantaria qualquer mulher parisiense.
Os índios eram vestidos 'em etapas'. O costume, segundo a autora, era adquirido aos poucos (p.227). Vestir as índias era de suma importância, para não despertar desejos nos homens brancos. Os negros vestiam-se de acordo com o tipo de trabalho que faziam e da condição econômica e social de seu amo:
"Quando desembarcavam dos navios negreiros uma tanga cobria-lhes o corpo; depois de comprados, estes escravos novos, 'boçais', passavam a vestir-se de acordo com o tipo de trabalho que executavam e com as posses e a condição social dos seus senhores." (228).
Os escravos do reino eram os mais bem vestidos. O escravo urbano geralmente recebia melhores roupas do que o escravo rural, sobretudo, se o seu trabalho era doméstico ou de certa maneira trata-se direto com seus amos.
Sobre fardamentos a autora deixa claro que é uma noção extremamente ampla (link com Adilson). Vai além de ser um uniforme militar. Farda nesse momento é, sobretudo, uma roupa masculina de distinção.
A autora dá, como preciosa dica, aos que desejam estudar a história da vestimenta nacional, os relatos dos viajantes estrangeiros. Eles são atentos observadores do modo de vida brasileiro. E ainda coloca uma rápida colocação sobre a produção de tecidos no país que era de destino bem certo: roupas simples e sacaria:
"Quanto à produção têxtil, destinada à confecção das várias peças do vestuário, só na Capitania de Minas Gerais, nos anos 70 do século XVIII se desenvolveu a produção mais finos do que aqueles que serviam para vestir a escravaria. Esse fato inquietou a coroa e o alvará de 5 de janeiro de 1785 (link com o documento acima colocado) proibiu essa manufatura, permitindo apenas o fabrico de tecidos grosseiros." (234)
Somente depois da Coroa vir para o Brasil é que houve a abolição do alvará supracitado e uma nova tentativa de se fazer um parque fabril no país. Assim, até esse momento só a produção caseira supria a necessidade das camadas mais pobres da população e dos escravos para a necessidade do vestir-se. As roupas das outras camadas provinham de tecidos importados, primeiramente de Portugal e depois de 1808 (Abertura dos Portos) sobretudo da Inglaterra (234). A autora nos mostra a classificação dos tecidos de acordo com o status que ele demonstra:
Tecidos finos: sedas, sedas francesas, linhos (tidos como luxo puro, segundo a autora), cetins, nobrezas pretos e 'veludinhos'.
Tecidos pobres: saietas, baetões (ambos são casimiras, tecidos de lã grosseira) e gangas.
As roupas como bens movéis muito preciosos eram costumeiramente legadas a outros, ou porque ficavam velhas e eram dadas (geralmente a escravos), ou porque o dono morria e as deixava de herança. Se quando morresse não tivesse herdeiros ou testamento era costume aqui no Brasil as roupas serem vendidas em hasta pública (235). As roupas eram poucas e era, sobretudo para as mulheres, signo de status muito grande. Quando se tinha um vasto guarda-roupa, inventariava-se e distribuía não só para os parentes, mas entre amigas e vizinhas também.
Prenúncio da moda no Brasil:
"A presença da Corte e o afluxo de estrangeiros tornou mais vital, para as altas camadas da sociedade colonial, seguir a moda européia na forma do trajar. Como escreveria o prussiano Leithold, 'o mundo elegante veste-se, como entre nós, segundo os últimos modelos de Paris', muito embora isto por vezes significasse uma inadequação climática. (...) O fenômeno da moda tornou-se mais visível depois da transferência da Corte, da abertura dos portos e da presença maciça de estrangeiros." (238)
Mas é importante ressaltar que as 'camadas elegantes' do Rio de Janeiro eram apenas um oitavo de sua população urbana, e que somente essa consumia as 'modas parisienses'.